terça-feira, 31 de maio de 2011
"The docks"
Lys, por exemplo, é daquelas pessoas que dificilmente se acostumariam com esse tipo de lugar. Todos desfrutando da mais profunda embriaguez. As garçonetes então - na verdade não eram garçonetes, mas Lys era bem nascida demais para distinguir - eram de uma pouca vergonha que ela nem comentava. De qualquer modo, estava ali pelo chamado daquela mulher, e não ia sair sem antes falar com ela.
Foi então que ouviu. Um. Dois. Três. Uma sequência de soares graves e profundos. Quatro. A conversa ficara então cada vez mais baixa. Cinco. Tudo que se ouvia eram murmúrios. Seis. Silêncio mortal. Sete.
Quando o Sol acabara de se por, ao som das sete badaladas do Ben, ela entrou. Dava passadas leves, nem se ouvia o som delas, com um vestido levemente curto que parecia ter sido tecido por um anjo e pela morte ao mesmo tempo. Do nada o silencio se rompeu com um grito uníssono de alegria: "Aaarghh!" como quem saúde um capitão subindo ao convés (mais como um pirata que como um capitão. Um capitão pirata, quem sabe).
Com risadas e sorrisos, foi abrindo caminho pelo estabelecimento. Um cumprimento aqui, um abraço ali, andava como se tivesse voltado de casa depois de meses distante, e realmente estava. A ovação não cessava.
Depois de muito esforço, conseguiu chegar ao bar.
-Um cosmopolitan para sua querida freguesa, meu senhor.
-Depois de tanto tempo Nina - ah, então era esse o nome dela - servirei a você hoje como nunca servi cliente algum.
-Bondade sua, Gregor.
-Bondade seria se eu lhe desse o drinque de graça, algo que não tenho intenção alguma de fazer.
E uma salva de gargalhadas cobriu o ar. Lys percebeu que estava também sorrindo, talvez aquele lugar não fosse lá tão mau. Poderia até gostar, mas estava mesmo interessada em o que aquela mulher - Nina não? - quereria com ela. Esperou.
Meia hora depois, quando o bar estava em seu auge de clientes, foi quando Nina olhou diretamente pela primeira vez para Lys. Olhou com seus olhos violetas semi-abertos, com aquela mistura de malícia com alegria que era característica dela, como quem diz "espere, mais um pouco, já vou aí" e foi o que fez. Esperou.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Continuação...
-Mas afinal, o que diabos você está fazendo aqui?! – perguntou Lys, atônita.
-Acho que nós duas sabemos que a pergunta certa é o que você está fazendo aqui – respondeu a bela moça.
Lys não fazia idéia do que tinha acontecido. Depois de ser salva, sua audição retornara, mas faltava algo, não se lembrava.
-Não sei, só me lembro... – e teve um súbito reaver da memória. Reviu seu homem, a cama, a loira. Pôs-se a chorar.
-Pelo jeito sabemos sim o que você fazia. Mais precisamente, por que o fazia? – esta sempre com sua voz, igualmente delicada e firme – Realmente acha que ele vale tanto assim?
-Eu o amei como jamais amei alguém, você não entenderia.
-Ha! – riu – Minha cara, se há algo que eu entenderia é a relação entre uma você e um homem, principalmente por conhecer você, por ter estado neste mesmo lugar (magnífico ele, não?) e tentado voar, exatamente da mesma maneira que você tentou. A diferença é que não havia ninguém para me puxar e eu simplesmente caí nas águas. Depois disso, meu instinto de sobrevivência falou mais alto.
E então por um longo período, à escala de horas, o silêncio pairou no topo da torre, a não ser pelos grasnares dos corvos. Finalmente:
-Bom, de qualquer forma, vou-me indo. Ainda tens muito que aprender, minha querida.
-E pare de me chamar de “minha querida”, nem ao menos conheço você.
-Apareça no The Docks amanhã, ou melhor dizendo, hoje, as sete da tarde. Então, e só então, você me conhecerá. Assim finalmente poderei chamá-la de minha querida.
-E quem disse que eu irei?
-Ah, você irá, minha querida, você irá – e retirou-se.
Lys só pôde ouvir as leves passadas da moça, descendo as escadas, até finalmente desaparecerem. Neste mesmo momento, olhou para leste. Uma brisa quente soprava em sua direção, enquanto os raios do Sol acariciavam seu rosto. Sentiu como se aquele calor fosse a vida. A vida que havia caído, quando seu corpo foi segurado. A vida que o rio tirara e que o Sol devolvia. Suspirou, e tentou lembrar-se de tudo que acontecera – será que foi real? – e de cada detalhe da fisionomia da adorável moça de cabelos escuros. Suspirou uma última vez, como quem toma o último gole da última taça de vinho no mundo. Ficou então pensando no que fazer o resto do dia, até as sete da tarde.
sábado, 21 de maio de 2011
Onde Lys aparece
Olhou para baixo. Já era de noite, se não fosse a luz da Lua Lys nem ao menos teria visto a fragata do pequeno William a navegar por entre os ventos noturnos pela margem do Tâmisa. Mesmo do topo da Tower Bridge podia-se ver o rosto do menino. O que tinha de felicidade tinha também de desespero. Corria freneticamente em direção ao pequeno barco enquanto este fugia – devia estar cansado de brincar com aquele menino remelento na beira do rio, queria percorrer viagens mais longas, cruzar os mares – mas antes que pudesse alcançar Lys virou o rosto.
Lys, porém, não ligava para o menino e seu barco de brinquedo. Não que ligasse para o capitão Smith e seu barco de verdade, o que lembrara a ela que se estivesse viva no dia seguinte poderia passar a tarde toda no mercado, procurando alguma jóia rara vinda do continente. Tinha já suas preocupações para querer futricar as dos outros. A imagem de seu amado em sua cama... com aquela mulher. Assim como Lys, era loira (motivo pelo qual não conseguia entender por que haveria de trocá-la), mas era bonita. De qualquer forma, não mais se importava com isso.
Viu os corvos voando, todos ao mesmo tempo. Pelo que podia perceber, era próximo de meia-noite. Talvez fosse mesmo meia-noite, mas então por que somente os corvos ouviram o badalar do Big Ben? Por que ela não? Devia ter perdido a audição. Percebeu então que era a hora. Abriu os braços. Voou.
Se não fosse a falta de audição teria pulado antes. Antes que uma jovem de olhos púrpura – mas o que diabos ela estaria fazendo aqui há esta hora? – segurasse seu punho, dizendo calmamente, mas com uma voz que impunha respeito:
- Ainda não, minha querida, ainda não.
Introdução a Nina Halfbell - Descrição
OBS: Sem o contexto que seria possível em um livro não há como subentender, por isso vou explicar. Esta descrição é uma descrição feita pelo eu-lírico. Não baseie sua concepção de Nina como alguem que destroi relacionamentos, mas alguem que é tao linda que poderia fazê-lo =)
Quão belo é seu rosto, a ponto de hipnotizar qualquer rapaz vadiando pelas esquinas de Londres. A ponto de enriquecer os pobres e empobrecer os ricos. De fazer várias libras serem poupadas, pois não é preciso comprar bebida para perder noção do que é bonito e do que não é; afinal, é perfeita, tão perfeita para um bêbado como para um rapaz virgem.
Cabelos negros como tinta, como tinta que colore um céu noturno em uma tela, mas que acariciam como uma quente e suave brisa de fim de tarde. Olhos arroxeados, profundos e incrivelmente misteriosos, ah, estes olhos, olhos puros, olhos que já desataram laços conjugais.
Sua pele que segundo alguns é a mais pura seda, daquela de fazer vestes para monarcas e imperatrizes. Seu sorriso segundo muitos é perturbador de tão belo. Sua boca, diferentemente das outras, não é caramelada, não, é de uma doçura que o ser humano ainda não conseguiu criar, ainda não conseguiu descrever. Às vezes são estes lábios que fazem com que a queiram mais que a vida. Mas é compreensível.
É aquela que simplesmente difere-se das demais. Que simplesmente não tem explicação (o vocabulário humano ainda é jovem). Uns consideram-na um fantasma, um espírito, seres humanos não são assim. Mas a maioria a adora, adora seu jeito misterioso, o jeito de ir uma vez por semana no “The Docks” para tomar um cosmopolitan e ouvir as histórias dos antigos marinheiros, sobre bestas gigantes que destruíram seus navios. Sobre ventos congelantes que sugam a vida de alguém. Sobre sereias que se disfarçam de mulher para atrair jovens corsários para as profundezas do mar.
Prazer, meu nome é Luca, e o seu?
Oi pessoas (ou qualquer outra criatura que tenha se interessado pelo blog). Este primeiro post é simplesmente para contar minha história e a história da minha história. Estava eu, na aula de Produção de Texto, sem a menor inspiração para escrever uma autodescrição, ainda para aquela manhã. De repente pensei "autodescrição, uma descrição de si mesmo, mas não necessáriamente de mim, mas do eu-lírico". O passo seguinte foi gritar "professora, o eu-lírico da descrição não precisa necessariamente ser eu, certo!?" e no exato momento que ela confirmou com a cabeça foi como se alguem tivesse pegado uma bala escrito Inspiração e atirado com ela na minha cara. Estava nascida Nina Halfbell, mas falarei mais dela no próximo post. O principal objetivo desta mensagem, caro leitor, é explicar para vocês o seguinte: Estes textos não seguem uma ordem sequencial ou cronológica. É simplesmente um lugar onde poderei mostrar ao mundo minhas obras e expor esta adorável criatura que é a Nina. Se um dia eu juntar todos eles e colocar em um livro juro que conto a vocês =D O nome é O Sétimo badalar porque quando o relógio da a sétima badalada significa o início da noite, ponto chave para o contexto das histórias. Bem-vindos a Londres, 1804, onde uma linda mulher de 26 anos de idade cria sua história.