O The Docks é daqueles lugares que se entra e não quer sair. Ninguem sabe se pelo cheiro característico de cerveja com mel ou pelo som agradável de risadas dos marinheiros, aquelas risadas graves, cheias de vida. De qualquer forma, The Docks é um lugar extremamente acolhedor, para quem está acostumado.
Lys, por exemplo, é daquelas pessoas que dificilmente se acostumariam com esse tipo de lugar. Todos desfrutando da mais profunda embriaguez. As garçonetes então - na verdade não eram garçonetes, mas Lys era bem nascida demais para distinguir - eram de uma pouca vergonha que ela nem comentava. De qualquer modo, estava ali pelo chamado daquela mulher, e não ia sair sem antes falar com ela.
Foi então que ouviu. Um. Dois. Três. Uma sequência de soares graves e profundos. Quatro. A conversa ficara então cada vez mais baixa. Cinco. Tudo que se ouvia eram murmúrios. Seis. Silêncio mortal. Sete.
Quando o Sol acabara de se por, ao som das sete badaladas do Ben, ela entrou. Dava passadas leves, nem se ouvia o som delas, com um vestido levemente curto que parecia ter sido tecido por um anjo e pela morte ao mesmo tempo. Do nada o silencio se rompeu com um grito uníssono de alegria: "Aaarghh!" como quem saúde um capitão subindo ao convés (mais como um pirata que como um capitão. Um capitão pirata, quem sabe).
Com risadas e sorrisos, foi abrindo caminho pelo estabelecimento. Um cumprimento aqui, um abraço ali, andava como se tivesse voltado de casa depois de meses distante, e realmente estava. A ovação não cessava.
Depois de muito esforço, conseguiu chegar ao bar.
-Um cosmopolitan para sua querida freguesa, meu senhor.
-Depois de tanto tempo Nina - ah, então era esse o nome dela - servirei a você hoje como nunca servi cliente algum.
-Bondade sua, Gregor.
-Bondade seria se eu lhe desse o drinque de graça, algo que não tenho intenção alguma de fazer.
E uma salva de gargalhadas cobriu o ar. Lys percebeu que estava também sorrindo, talvez aquele lugar não fosse lá tão mau. Poderia até gostar, mas estava mesmo interessada em o que aquela mulher - Nina não? - quereria com ela. Esperou.
Meia hora depois, quando o bar estava em seu auge de clientes, foi quando Nina olhou diretamente pela primeira vez para Lys. Olhou com seus olhos violetas semi-abertos, com aquela mistura de malícia com alegria que era característica dela, como quem diz "espere, mais um pouco, já vou aí" e foi o que fez. Esperou.
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