sábado, 21 de maio de 2011

Onde Lys aparece

Olhou para baixo. Já era de noite, se não fosse a luz da Lua Lys nem ao menos teria visto a fragata do pequeno William a navegar por entre os ventos noturnos pela margem do Tâmisa. Mesmo do topo da Tower Bridge podia-se ver o rosto do menino. O que tinha de felicidade tinha também de desespero. Corria freneticamente em direção ao pequeno barco enquanto este fugia – devia estar cansado de brincar com aquele menino remelento na beira do rio, queria percorrer viagens mais longas, cruzar os mares – mas antes que pudesse alcançar Lys virou o rosto.


Lys, porém, não ligava para o menino e seu barco de brinquedo. Não que ligasse para o capitão Smith e seu barco de verdade, o que lembrara a ela que se estivesse viva no dia seguinte poderia passar a tarde toda no mercado, procurando alguma jóia rara vinda do continente. Tinha já suas preocupações para querer futricar as dos outros. A imagem de seu amado em sua cama... com aquela mulher. Assim como Lys, era loira (motivo pelo qual não conseguia entender por que haveria de trocá-la), mas era bonita. De qualquer forma, não mais se importava com isso.


Viu os corvos voando, todos ao mesmo tempo. Pelo que podia perceber, era próximo de meia-noite. Talvez fosse mesmo meia-noite, mas então por que somente os corvos ouviram o badalar do Big Ben? Por que ela não? Devia ter perdido a audição. Percebeu então que era a hora. Abriu os braços. Voou.


Se não fosse a falta de audição teria pulado antes. Antes que uma jovem de olhos púrpura – mas o que diabos ela estaria fazendo aqui há esta hora? – segurasse seu punho, dizendo calmamente, mas com uma voz que impunha respeito:


- Ainda não, minha querida, ainda não.

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